

















“Não havia uma Mostra como essa. Há uma mágica que acontece no encontro do autor com sua criação, nesse modo mais cru, e isso é algo riquíssimo para o público e para os artistas. É um formato que imprime marcas na nossa alma.”
Chico César
“Perceber a canção na sua essencialidade é algo provocador e fundamental.”
Vitor Ramil
“O violão e a voz são o corpo e a alma dos cantautores. Um festival como esse, que focaliza a composição, é muito importante pra manter a vivacidade da música feita hoje.”
Nelson Angelo
“O cantautor tem uma missão muito importante: é ele quem revela a alma de um povo.”
Ceumar
Figura indispensável à cultura, o cancionista que entoa suas próprias obras sempre teve um lugar privilegiado na história das civilizações. Os artistas solitários da palavra cantada carregam em sua música uma infinidade de narrativas, atualizando as mitologias urbanas e os valores de uma sociedade. Feito “antenas da raça”, artesãos do sensível, captam no ar as vibrações do afeto humano e as materializam em melodias e versos. Seja nos arrojados estilhaços estéticos propostos pela canção com traços acadêmicos, ou nos populares refrões que sintetizam sentimentos geracionais e são cantados por multidões, o cantautor é o mago que modela o som na palavra, a palavra no tempo, a alquimia dos ritmos e das alturas. Transporta afetos indispensáveis à nossa atmosfera simbólica, e é por isso mesmo o rústico guardião de uma avançada tecnologia musical: o duo que tem consigo mesmo, cantando e tocando ao som de um único instrumento. A voz do cantautor nunca está só: ela é o espelho de toda uma comunidade.
A Mostra Cantautores Belo Horizonte é um encontro intimista de criadores da canção contemporânea e tem por conceito-base a realização de apresentações solo, em que cantores-compositores tocam suas canções em formato bruto, acompanhados apenas por seu instrumento.
A 7ª edição do projeto se realiza através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais com patrocínio da CLARO e apoio cultural do Cine Theatro Brasil Vallourec, Rede Minas e Rádio Inconfidência.
Nesse ano, temos o prazer de convidá-lo para participar de uma semana de mergulho na canção. Além de apresentar 18 artistas em suas múltiplas expressões, a Mostra também realiza uma programação de debates e atividades diurnas.
De 03 e 10 de novembro de 2018, a Mostra Cantautores Belo Horizonte ocupa o Cine Theatro Brasil Vallourec, o Auditório BDMG e os espaços de convívio da cidade. Venha conosco!
A Mostra Cantautores BH chega a sua sétima edição firmando o compromisso de estabelecer um mapa propositivo e atento da produção cancional no Brasil e no mundo, jogando luz sobre um conjunto de obras e autores que realizem, em sua expressão composicional e performática, sensações e conceitos capazes de deslocar sensibilidades, promover reflexões, lançar “mundos no mundo”. Neste intento, a curadoria esteve focada na análise do material enviado pelos 256 inscritos, bem como na pesquisa de autores que, fora desse espectro, representassem lugares de interesse conectados com o quadro geral que se ia desenhando a cada etapa do processo. Uma cartografia, pois, tão afirmativamente singular quanto necessariamente distanciada do circuito de retroalimentação em espiral que hoje predomina em muitos festivais pelo Brasil, que tanto fazem repetir modelos preguiçosos de escolha, pautados antes pelos números de visualizações que pela expressividade das obras.
Por se tratar a canção de um campo intrinsecamente híbrido e de ressonâncias múltiplas, as dificuldades metodológicas nos fizeram criar, desde a primeira edição do festival, uma pauta de diretrizes gerais no recorte desse conjunto de obras, situando prioridade em alguns parâmetros básicos, a saber: a consistência do trabalho de harmonia, melodia e letra, no sentido de uma organicidade da forma proposta, seu equilíbrio e solidez internos, bem como sua capacidade de comunicação, nas muitas esferas da escuta onde isso se dá; a personalidade vocal, onde se perceba uma assinatura estilística autêntica e singular do artista, num encontro harmônico e equilibrado entre a interpretação e a composição; a trajetória e a representatividade do cantautor, buscando entender o lugar ocupado por sua obra no circuito, suas conexões e diálogos estabelecidos, bem como as ressonâncias políticas de seu trabalho. Ainda como um critério geral, base da programação como um todo, vale ressaltar nossa atenção aos possíveis enlaces e diálogos entre os campos estéticos dos artistas selecionados, na tentativa de montar uma cartografia diversa e propositiva. Dessa maneira, a delimitação do nosso objetivo geral foi marcada pela vontade de conectar múltiplas filiações na árvore genealógica da canção popular, na busca pelo mapeamento de outras historiografias possíveis, que não as hegemônicas.
Com o cuidado de reunir conceitualmente o resgate, continuação e reinvenção da canção popular, a curadoria da sétima edição da Mostra Cantautores BH acresce à centralidade com que lhe chegam as narrativas estético-musicais a relevância de se sublinharem as criações-interpretações femininas e negras, diante de um evidente silenciamento histórico e presente, não, por isso, sem importante resistência no mundo inteiro. Num recorte estabelecido a partir do material enviado, bem como pelos convites diretos realizados pela curadoria, criou-se a percepção da premência de também trazer ao protagonismo tais escritas, em suas infinitas nuanças de singularidade e diversidade, pautando-as no núcleo das reflexões, proposições e experiências de fruição.
No que tange às cantautoras, o processo curatorial dos últimos anos já nos tinha apontado para a urgência da construção de um real equilíbrio entre homens e mulheres, na programação, ponto sobre o qual já recebemos inclusive questionamentos, pelas redes sociais, e ao qual novamente nos reportamos, com orgulho de apresentar um trabalho de grande consistência e diversidade. Pela primeira vez, em sete anos de festival, a programação inédita de shows posiciona um número equivalente entre homens e mulheres. No entanto, infelizmente, é importante assinalar que, no campo das inscrições, o desequilíbrio permanece: foram apenas 54 mulheres inscritas, de um total de 256 inscritos, fato que nos aponta para a importância de ações mais efetivas de formação e articulação, a fim de se criarem condições mais equânimes, sobretudo, para a manifestação dessa escrita.
Por caminhos similares, ainda que distintos, a presença da escrita negra e de descendências africanas se estabelece no cartaz de maneira expressiva e multifacetada. Buscando atentar para a singularidade dos traços não apenas rítmicos, harmônicos e melódicos, mas também poéticos e no nível das diversas texturas, quer sonoras (muitas vezes, enquanto discurso), quer performativas, as africanidades em movimento, constitutivas, como bem se sabe, dos alicerces do Brasil, reivindicam, a esta altura da nossa história, uma leitura atenta e complexificada ao que, dentro delas, em pé de igualdade com o que se impôs hegemônico, é diversidade, uníssono, proposta, devir, razão, sentimento, corpo, ceticismo, contradição, solidez. A ideia de ancestralidade, tão cara às matrizes negras e às negritudes em sístole e diástole, chega a criadoras e criadores diversas/os que a pensam-vivem de muitas maneiras: é a memória indo ao encontro de propostas de criação que vão da língua à linguagem, da linguagem ao insondável, do insondável ao visível, do visível ao estético.
A escuta crítica por parte da curadoria tentou ser o mais imparcial possível, no que diz respeito às propostas apresentadas pelos(as) artistas. Priorizamos a consistência e a apropriação das suas narrativas, as quais escutamos atentamente. Houve uma preocupação em se obter certa abrangência de discursos e novas linguagens, o que quer dizer que uma atenção especial foi direcionada para as abordagens estéticas, que, de algum modo, trazem frescor ou nos colocam num lugar novo de recepção e contato com o criativo.
Mas é claro que dessa novidade criativa à qual fomos sensíveis, também a apropriação e domínio dos discursos e consistência de competências ao nível da escrita poética, assim como os seus conteúdos, foram um ponto fundamental.
Sendo a Mostra Cantautores um lugar que acolhe artistas em seu formato primordial de criação, a solo, colocou-se a questão da performance como um ponto também decisivo.
É claro que, diante da grande pluralidade e riqueza de grande parte do material enviado pelas inscrições, não pudemos selecionar todos os artistas que nos enviaram material. Portanto nos norteamos novamente por uma organização em categorias, a saber:
Categoria: local
Artistas residentes e ou atuantes na cena de MG
Vagas: 4
Nessa categoria, procuramos esboçar um panorama peculiar da produção local atual. Dada a imensa riqueza do cenário, foi um campo de grande dificuldade de escolha, mas acreditamos ter conseguido apresentar um recorte suficientemente diverso e consistente com estes quatro artistas: Juliana Perdigão, Rafa Castro, Nath Rodrigues e Affonsinho.
Categoria: nacional
Artistas residentes e ou atuantes fora da cena de MG
Vagas: 4
Nessa categoria propomos o desenho de um mapa compromissado com a diversidade, dos pontos de vista estético, geográfico e geracional, unindo representantes da nova safra, ao lado nomes já historicamente reconhecidos por suas trajetórias: Jards Macalé, Cátia de França, François Muleka e Chico Saraiva.
Categoria: internacional
Artistas residentes e ou atuantes em cenas fora do Brasil
Vagas: 2
Pela triste constatação de que o Brasil tem sido historicamente pouco poroso às manifestações culturais lusófonas de outras origens, sentimos que é necessário fortalecer afirmativamente essa conexão com povos que partilham das múltiplas expressões da língua portuguesa, em sua diáspora pelo mundo. Portanto, a busca por artistas com essa característica tem sido um critério privilegiado na escolha dos convidados internacionais já há algumas edições. Nessa edição, novamente focalizamos a matriz luso-africana, trazendo a angolana Aline Frazão, e o cabo-verdiano Tcheka.
Categoria: headliner
Artistas, veteranos ou não, com amplo reconhecimento de público e crítica
Vagas: 4
Os artistas que abrem e encerram a Mostra definem, em alguma medida, aspectos chave da proposição lançada pelo festival, a cada ano. Sintetizam qualidades que consideramos extremamente relevantes e pertinentes para o cenário hoje, em termos estéticos e políticos.
Neste ano, o festival tem o orgulho de trazer como headliners quatro nomes icônicos da canção popular brasileira, que dispensam apresentações: João Bosco, Joyce Moreno, Zélia Duncan e Angela Ro Ro. Na diversa singularidade de suas expressões, estes artistas nos revelam a pura energia criativa da canção brasileira, cada um à sua maneira, evidenciando as maravilhosas complexidades deste mapa que nos propomos a fazer.
Resta, por fim, comentar o retorno à baila de quatro artistas que já passaram pelo festival, gesto que se tornou tradição para os atos de abertura dos headliners. Conectados por evidentes ressonâncias estilísticas e de filiação estética entre as obras, Thiakov e Thiago Corrêa estabelecem as boas vindas para Angela Ro Ro e Zélia Duncan, ao passo que Antonio Loureiro e Vitor Santana abrem alas para Joyce e João Bosco.
Esperamos, com este detalhamento dos critérios e do processo que norteou as escolhas da curadoria, evidenciar o caráter crítico e reflexivo desta programação, atenta ao horizonte presente e móvel da música no Brasil e no mundo, sem perder os pés na riqueza da tradição que constitui nossa memória afetiva e nosso campo histórico de visão. A formação de novos circuitos onde o exercício da escuta possa prevalecer de modo sereno, prazeroso e atento é algo fundamental em tempos onde a surdez se estabelece como matriz da polarização política e do caos social. Escutar é aprender a olhar pra dentro, resgatar a centelha fundamental da nossa condição humana, recriar a força do sentimento de comunidade: é na direção da construção dessa utopia que movemos nosso trabalho.
Luiz Gabriel Lopes, Jennifer Souza, Tiganá Santana e Susana Travassos
Equipe Curatorial Mostra Cantautores 2018
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Realização Mostra Cantautores
Idealização, Direção Artística e Curadoria Jennifer Souza e Luiz Gabriel Lopes
Curadores Convidados Tiganá Santana e Susana Travassos
Coordenação Geral Jennifer Souza
Coordenação de Comunicação Luiz Gabriel Lopes
Produção Executiva Clarisse Salles
Coordenação de Logística Mariana Takamatsu
Produção de Campo Joyce Cordeiro
Assistência de Produção Poliana Tuchia
Projeto Gráfico Maracujá Arte Gráfica
Produção Audiovisual Apiário, Afirma Criação Audiovisual e Estúdio Motor
Produção Musical Estúdio Frango no Bafo
Luz Cristiano Araújo
Som Bruno Corrêa
Assistente de Palco Debris Oliveira
Foto Pablo Bernardo
Assessoria de Imprensa e de Redes Sociais Navegar Comunicação e Cultura
Gestão Financeira e Jurídica Diana Gebrim
Site Pedro Leitin