Um sonho hippie que não acabou

Por Lauro Lisboa Garcia – 11/12/14

Nada como uma boa brisa depois de um contratempo. Noite após noite, a 4ª Mostra Cantautores em Belo Horizonte tem alternado climas de forma curiosa. Ontem foi a vez de se instalar um ambiente hippie e os shows ao estilo folk dos mineiros Laura Catarina e Téo Nicácio caberiam bem à vontade num luau à beira-mar. De pés descalços, acompanhados dos próprios violões, eles empolgaram uma plateia lotada, com o “axé vital” de muitos amigos em comum, alguns protagonistas de jornadas pelo interior de Contagem, onde Téo morou, como o de um “réveillon psicodélico” que inspirou “Milagrosa”.

Como a água que sorrateiramente molha a areia e quando você percebe os pés já afundaram nela, a melancolia tomou conta do Teatro Funarte BH, e Laura chegou a chorar de tanta emoção que mal conseguiu terminar a canção “Mãe”, dedicada a sua irmã. A mãe delas, que estava na plateia, também mergulhou em lágrimas.

Em seu bloco, Téo – artista de rua que só aprendeu a andar de bicicleta “depois de velho” e compôs “Pedalada” sobre isso – contou casos pessoais, tirou onda com um amigo da produção do festival, arriscou um samba composto em situação de privações no Rio de Janeiro (“Ode à Sinaleira”, dedicada aos artistas de rua e malabaristas do sinal fechado), misturou espanhol com inglês numa letra e citou “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, em outra. Também disse bem-humorado antes de tocar uma canção daquelas que se tem vergonha até de mostrar pros amigos: “Não vou chorar, como vocês estão esperando”.

As canções de Laura são tão ou mais sentimentais do que as dele, um tanto singelas e confessionais. Aos 19 anos, ela apresentou entre novidades uma composição que fez aos 15 anos, “um pouco breve”, mas que para ela diz muita coisa. Com a timidez graciosa dos principiantes, ela errou a mão no violão que dedilha sem grande potencial (“meu violão é muito simples, então toco com humildade”), corrigiu-se, cantou músicas que nem têm títulos definitivos, outras dedicadas a entes próximos e uma delas baseada num filme de sua predileção, “Cléo e Daniel”.

É notável sua vocação de cantora (ela que estuda canto lírico e também integra uma banda, Dom Pepo) mais cativante até do que como compositora, de voz doce e afinada. Despretensiosa, disse que faz música “para dar vazão, para ilustrar” sua vivência das delicadezas que expôs e que, conforme declarou, mais recentemente mudou sua forma de encarar a melancolia.

A passagem para a entrada de Téo se deu como num suave fade-out/fade-in, em que aos poucos ele foi pisando nas pedras mais firmes, contornando “o medo de ficar meio deprê”. Disse que depois de ter visto a marcante abertura do evento com Zé Miguel Wisnik e Guinga, na segunda-feira, ficou também com vontade de contar histórias.

“Como artista de rua andei um pouco afastado, apesar de um little help of my hippies”, falou Téo, que com a banda Batucanto experimentou o que ele chamou de “droga viciante”: a estrada. Desacostumado a cantar sozinho, disse sentir falta dos parceiros, mas mandou bem seu recado e no fim contou com Laura para dividir os vocais com ele em “Reverberae”. Entre violões meio desafinados também pulsam corações vigilantes, de pés no chão e com a cabeça na vastidão interna de cada um. Para onde vão, é cedo pra dizer. Mas se o certo é incerto, eles vão pra algum lugar pelas estradas abertas sem pavimentação – por que não?

FUNARTE MG

TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANA

Rua Januária, 68, Floresta (31) 3213-3084
Venda antecipada www.sympla.com.br/mostracantautores

Av. Afonso Pena, 4001, Mangabeiras (31) 3229-2979
Venda antecipada www.ingressorapido.com.br

PREÇO ÚNICO | R$10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia) *A meia entrada é vendida somente com a apresentação da carteirinha e/ou documentos de identificação no ato da compra;