Diário das Alterosas (terça, dia 2)

Por Leonardo Lichote – 10/12/14

Tarde no Mercado Central de Belo Horizonte, doce de abóbora com coco e, na sequência, cachaça. Começar o texto do segundo dia, como o do primeiro, com roteiro gastronômico – estilisticamente pouco criativo mas, bolas, estou em Minas.

Noite na Funarte, outro palco da Mostra Cantautores – e que seguirá sendo sua casa até o encerramento, domingo. Duas mulheres, cantautoras. A primeira, Pamelli Marafon, abre seu show com “Minas Gerais”, que fala de Minas e da canção – os dois combustíveis que alimentam, direta (a canção) e indiretamente (Minas), o festival. Uma música que, a compositora paulista de Rio Claro explica, fez assim que chegou ao estado “que me acolheu primeiro com suas montanhas, depois com sua gente”. Com a fala – e na voz suave e na simpatia tímida –, ela anunciava o cerne de seu trabalho: a delicadeza e certo “desejo de ser mineira”, expresso em versos e, sobretudo, melodias de suas canções de amor e de natureza. Uma doçura – pálida, se comparada com a radicalidade da noite anterior da mostra – nuançada apenas no fim. Primeiro, com uma fala-canção sobre o tempo na qual ela atua quase como atriz, com a dureza do metrônomo sobre ela. E em seguida, com a última, “Problema com regras”, que trazia o veneno já no título.

Iara Rennó, por sua vez, é o veneno. Só com sua guitarra (que toca ora como guitarra da gramáttica do rock, ora como um violão acidificado), ela é picante, adstringente, agressiva, do culto afro, da sujeira, da distorção dos pedais, da violência de sua São Paulo – e de seu Rio. É sobre essa cama que deita sua doçura pouco óbvia, como a da canção de separação “Arroz sem feijão” ou de versos como “do teu beijo me vejo no abismo sorrindo”. E é com essa postura que seduz – ou afasta – a plateia. Numa mostra dedicada ao cantautor, ela investiga esse campo trazendo seu olhar sobre músicas suas gravadas por outros intérpretes (“Mandingueira”, registrada por Elza Soares), atravessa suas diferentes fases (de Dona Zica a “Iara”, passando por “Macunaíma Ópera Tupi”, sua “parceria” com Mário de Andrade, até chegar a algumas inéditas, feitas com colegas como Gustavo Galo) e estica – com menos acordes e mais contundência – os limites da canção.

Noite na Funarte, doce de abóbora com coco e cachaça.

FUNARTE MG

TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANA

Rua Januária, 68, Floresta (31) 3213-3084
Venda antecipada www.sympla.com.br/mostracantautores

Av. Afonso Pena, 4001, Mangabeiras (31) 3229-2979
Venda antecipada www.ingressorapido.com.br

PREÇO ÚNICO | R$10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia) *A meia entrada é vendida somente com a apresentação da carteirinha e/ou documentos de identificação no ato da compra;