Diário das Alterosas (sexta, dia 5)

Por Leonardo Lichote – 13/12/14

Do topo da montanha mais alta de Minas, um giro de 360°, com os olhos mirando além e aquém dos limites do estado. A ideia de panorama amplo – em gêneros, em motivações, em naturezas, em origens – da canção se aprofunda a cada dia da Mostra Cantautores. Na noite de sexta, dois compositores locais abriram o horizonte do folk, do rock, nesse universo.

Vinikov, de blazer e all star, abriu a noite. Ecoando Bob Dylan, atmosfera beatnik, Tom Waits, Stones, Mccartney, Elton John, ele mostrou seu repertório, quase exclusivamente em inglês, para a sempre atenta plateia do festival. Alternando-se entre o violão de aço e o de nylon, visitou outra tradição forte da voz e violão, que passa não por João Gilberto, João Bosco, Gilberto Gil ou a linhagem dos cantautores brasileiros surgidos a partir dos 1960, mas sim pela escola anglosaxônica dos bardos, outsiders. Versos de “my love” e “anything from you” misturados a “time is running so fast” e “I wanna get stoned”. Amor e inadequação, o deslocamento do mundo do sujeito que dança entre ser o heroico cavaleiro solitário e o loser que lamenta suas perdas. Exceção em português do seu repertório é “Azul amor beleza”, sobre versos do maldito pop Paulo Leminski – significativo do tradição à qual Vinikov busca se filiar.

Violão de aço em punho, ainda mais bardo – e um tanto mais maduro como compositor, cantor e instrumentista -, André Travassos se aproxima mais do alt-country, de uma elaboração sobre a herança dessa tradição. Seu mergulho no folk é mais profundo (“Fui atrás das referências de Bob Dylan, do folk americano e inglês”, ele esclarece durante o show), em versos de um existencialismo ora de imagens cruas – não por acaso Bukowski (e seu alter ego Henry Chinaski) inspiram uma das canções, que carrega ecos de outro “wild side poet”, Lou Reed – ora de enorme lirismo (versos como “Into the night there’s love and hate in perfect tune” ou “You are the sun when I’m the sea/ You can dive into me”). Um artista interessante que, só com seu violão, cruza com categoria seus interesses – ele é integrante das bandas Câmera (influenciada por Wilco e Sonic Youth) e Invisível (que traz entre suas referências Bob Dylan e Kings of Convenience).

FUNARTE MG

TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANA

Rua Januária, 68, Floresta (31) 3213-3084
Venda antecipada www.sympla.com.br/mostracantautores

Av. Afonso Pena, 4001, Mangabeiras (31) 3229-2979
Venda antecipada www.ingressorapido.com.br

PREÇO ÚNICO | R$10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia) *A meia entrada é vendida somente com a apresentação da carteirinha e/ou documentos de identificação no ato da compra;