Diário das Alterosas (quinta, dia 4)

Por Leonardo Lichote – 12/12/14

William Serra é cantor, compositor e instrumentista – a tal figura celebrada na Mostra Cantautores. Mas William Serra também se apresenta como dono de um café numa cidade do interior de Minas, onde mora (“Vocês estão todos convidados”, diz com simpatia e sotaque mineiríssimos). A humanidade chão com a qual se mostra, com a qual comenta suas próprias canções, contrasta com o grau de elaboração popular de sua música e de seu violão de alma sertaneja. Na linhagem de compositores como Fagner, Belchior e Xangai – mas com incursões por sambas buarquianos ou à la Nelson Cavaquinho -, ele parte de ideias simples (ou aparentemente simples) para produzir sua música. “Um dia sonhei que morri e acordei. Pensei: e se a gente não morresse, se depois de morrer acordasse?”, diz, antes da canção que desenvolve exatamente esse pensamento. Antes de cada uma, delas, ele vai, com a naturalidade de um contador de histórias, desenrolando sua biografia artística, o caminho de seus interesses – do samba para o bolero, do bolero para o rock. Suas imagens falam em “solidão de um ambulante sem freguês” e da “rapadura do amor” (“que seja doce pra ser dura o que for”). Na despedida, sua síntese: “Vou viver mais um pouquinho pra ter um tanto de ideia e voltar com um tanto de música nova pra vocês”.

Em vez do chão, Thiago Amud mergulha no céu e se alça ao inferno. Seu olho – que muitas vezes encara a plateia com dureza, como que para reafirmar a contundência de seu violão e de seu versos – mira no imenso, mesmo quando com humor ou com amor: as grandes civilizações, a organização dos planetas, a Nação brasileira, a Arte, os mitos, o Apocalipse e o que vem depois dele. E a música que faz para tratar disso é igualmente grande – na canção brasileira hoje, Thiago é a ponta-de-lança da vanguarda que se estabelece sobre as bases clássicas (o virtuosismo, o saber acadêmico, a própria forma da canção). Na apresentação – que juntou músicas de seu mais recente disco, “De ponta a ponta tudo é praia-palma”, e inéditas (que estarão em seu próximo álbum) – ele vai do violonista clássico ao violeiro de feira, muitas vezes cruzando os dois, como fica evidente em “Catirina desejosa”, parceria com Edu Kneip. Nas letras, solta versos que caem como monolitos: “As belezas guardam logros e as musas criam tênias de dez metros”, “Mumificar a vida a fim de que ela seja inteira e branca”. Uma reflexão sobre o popular e a arte que atravessa o show e desemboca no encerramento com o frevo “Plano de carreira”, que entrelaça palavras como “piparotear” e “piriguete” para fazer graça da dinâmica do mercado da música. E se conclui lindamente no bis tão belo quanto fanfarrão, com ele e William Serra juntos em “Castigo”, de Lupicínio Rodrigues.

FUNARTE MG

TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANA

Rua Januária, 68, Floresta (31) 3213-3084
Venda antecipada www.sympla.com.br/mostracantautores

Av. Afonso Pena, 4001, Mangabeiras (31) 3229-2979
Venda antecipada www.ingressorapido.com.br

PREÇO ÚNICO | R$10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia) *A meia entrada é vendida somente com a apresentação da carteirinha e/ou documentos de identificação no ato da compra;