Diário das Alterosas (quarta, dia 3)

Por Leonardo Lichote – 11/12/14

Chego atrasado à Funarte para a terceira noite da Mostra Cantautores. A apresentação de Laura Catarina, de quem nada sabia, tinha acabado de começar. Dentro do teatro, a sala escura e eu ainda sem ver o palco, já sou confrontado com um mundo de uma natureza oposta a do qual eu vinha – um táxi apressado, tenso pelo atraso, guiado pela voz fria do meu Waze. Na sala, no escuro, antes de ver a cantora, ouço um delicado dedilhado de violão e um canto agudo, ao mesmo tempo juvenil e ancestral em suas notas alongadas. Penso em Anthony and The Johnsons e cantadeiras do sertão.

Quando enfim vejo o palco, enxergo uma menina descalça, óculos de armação grande, impondo fisicamente, com a mesma naturalidade e delicadeza de sua música, uma personalidade artística. É o primeiro show solo de Laura, integrante da banda Dom Pepo, da novíssima cena de Belo Horizonte, e filha do compositor Vander Lee. Suas canções tem poucos acordes, e sobre eles ela deita melodias contemplativas, as tais notas alongadas. Desnecessariamente insegura com seu violão, ela erra e diz que não sabe tocar bem. Suas canções andam num fio. Numa delas, “Mãe” (que dedica à irmã), a voz treme num crescente até ela explodir num choro. As letras – de uma pureza que não soa como ingenuidade – falam de adeus, de ajudar quem se ama, de melancolia. “Essa eu fiz quando tinha 15 anos”, diz. Na seguinte: “Essa outra é nova. Dá pra ver que a minha forma de encarar a melancolia mudou um pouco”. Ela tem 19. A beleza e a força do começo.

Téo Nicácio também é mineiro e também faz seu primeiro show solo na mesma noite – até ali, ele diz na fala que abre seu show, ele vinha contando com uma “little help from my hippies”. Artista de rua, barba longa, descalço, sua postura é desarmada e espontânea frente à plateia – e frente à sua música. Assim, como o sujeito bacana que pega o violão na roda e toca músicas suas feitas ao longo de anos, descomprometidas com gêneros ou com uma “cara”, Téo passeia com leveza e simpatia por canções que ora remetem a Jack Johnson, ora a Zé Ramalho, ora a Led Zeppelin. Suas letras são totalmente embebidas do espírito de artista de rua (categoria que ele homenageia no samba “Ode à sinaleira”), dessa forma livre de estar no mundo. Canta viagens de chás alucinógenos e a experiência de andar de bicicleta (o que, ele conta, aprendeu depois de adulto) pela cidade.

Téo e Laura terminam a noite juntos no palco, pés igualmente no chão, afinados em seus movimentos de sentidos opostos – ela para dentro, ele para fora.

FUNARTE MG

TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANA

Rua Januária, 68, Floresta (31) 3213-3084
Venda antecipada www.sympla.com.br/mostracantautores

Av. Afonso Pena, 4001, Mangabeiras (31) 3229-2979
Venda antecipada www.ingressorapido.com.br

PREÇO ÚNICO | R$10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia) *A meia entrada é vendida somente com a apresentação da carteirinha e/ou documentos de identificação no ato da compra;